
   Justiça argentina prendeu 20 pessoas, incluindo líder do grupo, um contador de 84 anos que teria obtido milhões de dólares extorquindo e prostituindo seus 'alunos'. Justiça acusa escola de ter prostituído alguns de seus alunos
PFA/via BBC
O prédio de dez andares no bairro residencial de Villa Crespo, na região norte de Buenos Aires, não chamava muita atenção dos moradores. Ali, funcionou por 30 anos a Escola de Yoga de Buenos Aires (EYBA). 
Muitos acreditavam que o edifício era simplesmente uma organização da "New Age", que prometia curar as pessoas espiritualmente. 
Mas, de acordo com a Justiça argentina, o que realmente funcionava naquele prédio era um perigoso esquema de pirâmide. 
Por trás da fachada de "grupo espiritual", a escola atraia "alunos" — incluindo vários moradores dos Estados Unidos — para explorá-los financeiramente e, no caso de algumas mulheres, para prostituí-las. 
O objetivo era obter dinheiro e favores. 
Os donos da escola não se pronunciaram. 
Em 12 de agosto, membros do Departamento de Tráfico de Pessoas da Superintendência de Investigações da Polícia Federal argentina invadiram o prédio e cerca de 50 outros locais em busca de 20 pessoas acusadas de liderar a organização criminosa. 
Ao todo, 20 suspeitos foram presos. Também foi pedida a prisão de outras quatro pessoas que estariam nos Estados Unidos. 
O juiz federal Ariel Lijo, responsável pelo caso, acusou os detidos de crimes de tráfico de pessoas para efeitos de redução à servidão (agravado por coação, furto qualificado, lavagem de dinheiro, associação ilícita, exercício ilegal de medicina, venda irregular de medicamentos e tráfico de influência). 
Líder do grupo, Juan Percowicz, é um contador de 84 anos que já havia sido acusado dos mesmos crimes há quase três décadas
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Um dos presos era Juan Percowicz, um contador de 84 anos que é considerado o líder do grupo. 
Percowicz já havia sido acusado dos mesmos crimes em 1993, mas o caso não avançou. Alguns policiais disseram acreditar que a ligação de Percowicz com autoridades o protegeu de ser condenado na época.  
Além de prender os acusados, as autoridades fizeram buscas em 37 propriedades, apreenderam 13 carros e mais de um milhão de dólares (cerca de R$ 5,1 milhões). Os bens do grupo também foram congelados. 
Como funcionava o esquema  
Segundo a investigação, a Escola de Yoga de Buenos Aires faz parte de uma organização maior, a BA Group, com sede na capital argentina. 
Ela recrutava alunos em três cidades americanas: Nova York, Las Vegas e Chicago. 
O caso lista "179 alunos, distribuídos em suas diversas localidades". 
A escola de ioga dizia ser "uma organização espiritual que ajuda a curar vícios e doenças, incluindo o HIV." 
Percowicz é o líder espiritual do grupo. Seus alunos o chamam de "O Professor" ou "Anjo", e ele ocupa o posto mais alto da pirâmide: o sétimo. 
Parte do dinheiro e bens apreendidos durante as batidas
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Abaixo dele havia toda uma hierarquia de poder.  
Existiam os "Apóstolos", no nível 6, e abaixo deles os "Gênios". Os "Estudantes" formam o nível 4. Em 3, 2 e 1 havia o que o grupo chamava de "Humanos Comuns". 
Como o grupo era financiado 
Os investigadores acreditam que, por trás desse esquema de pirâmide, existia uma organização criminosa que lucrava às custas de seus seguidores. 
A escola teria obtido U$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) através de vários canais. 
Um deles era conhecido como "gueixa VIP".  
Segundo a investigação, esse canal era uma das principais fontes de financiamento do grupo. Ele consistia na exploração sexual de alguns dos "alunos" da escola de ioga. 
Algumas mulheres eram obrigadas a "ter encontros sexuais com pessoas de alto poder econômico para arrecadar dinheiro e obter proteção e/ou influência". 
O objetivo era atrair empresários ou pessoas de poder para "obter grandes somas de dinheiro para a organização".
Outro canal era ligado a supostos tratamentos de saúde.  
A escola operava uma clínica de "cura" para várias doenças, fornecendo medicamentos que prometiam "curar vícios", por exemplo. 
Muitos pacientes foram recrutados nos Estados Unidos e enviados a Buenos Aires para realizar tratamentos desse tipo. 
Havia também o "cerimonial", outro canal de financiamento. 
Esse termo, na verdade, era uma mensalidade de US$ 200 (R$ 1.035) que os "alunos" tinham que pagar para fazer parte da organização. 
As autoridades acreditam que alguns desembolsavam quantias muito maiores, chegando até US$ 10 mil (R$ 51,7 mil). 
O grupo também tinha muitas propriedades.  
Quando eram cooptados pela quadrilha, os "alunos" eram obrigados a colocar seus bens no nome da organização. A investigação encontrou 186 títulos de propriedades pertencentes à escola. 
De acordo com a agência de notícias estatal argentina Télam, os acusados se recusaram a testemunhar à polícia. 
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62599311
Source: A escola de ioga de Buenos Aires acusada de explorar prostituição de alunos por 30 anos (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/08/19/a-escola-de-ioga-de-buenos-aires-acusada-de-explorar-prostituicao-de-alunos-por-30-anos.ghtml)