Baterista de 94 anos que sobreviveu ao Holocausto faz show em SP: 'É o que me mantém vivo'

Iniciado por noticias, 10, Agosto, 2019, 13:53

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Baterista de 94 anos que sobreviveu ao Holocausto faz show em SP: 'É o que me mantém vivo'


   Saul Dreier, hoje um 'jovem' de 94 anos, criou a 'Holocaust Survivor Band', que toca música típica judaica. Grupo se apresenta na próxima semana em São Paulo. Sobrevivente do Holocausto que criou banda faz show em SP
O baterista Saul Dreier, de 94 anos, aqui em uma foto de 2017, em frente ao Portão de Brandenburgo, em Berlim.
Fabrizio Bensch/Reuters
Saul Dreier, um "jovem" de 94 anos - como ele mesmo se chama - é um polonês sobrevivente do Holocausto que, há cinco anos, fundou a Holocaust Survivor Band. Na próxima terça-feira (13), às 20h, no auditório do Anhembi, em São Paulo, o baterista único vai se apresentar pela primeira vez no Brasil.
Em 2014, Saul, então com 89 anos, passava a maior parte do tempo em casa, na Flórida, e não viajava muito. A esposa, Clara, estava doente. Certo dia, enquanto passava o tempo no computador, ele leu sobre a história de Alice Herz-Sommer, pianista judia que havia sobrevivido aos campos de concentração nazistas. Ela tocou o instrumento até falecer, aos 110 anos.
O polonês resolveu, ali, que montaria uma banda de sobreviventes do Holocausto.
Aos 89 anos, Saul resolveu montar uma banda de klezmer. Hoje, aos 94, faz shows ao redor do mundo.
Reprodução/Facebook Saul Dreier
"Você está maluco?" foi o que a esposa, Clara, com quem era casado fazia 55 anos, conseguiu dizer.
Ouviu o mesmo do rabino da sinagoga que frequentava em Boca Raton, na Flórida.
"Você tem 89 anos. Pra que precisa disso? Você está maluco?"
Saul até pensou mesmo que estava. "Se minha esposa diz que estou maluco, e meu rabino diz que estou maluco, então eu pensei... talvez eu esteja maluco!"
Mas ele não se deixou abalar. Dias depois, foi uma loja de instrumentos, comprou uma bateria e levou para casa. Disse à esposa que tinha um presente para ela.
Clara respondeu: "Ou você vai [embora] ou a bateria vai."
Saul e a esposa, Clara, falecida em 2016.
Arquivo pessoal
Nem ele, nem a bateria foram a lugar algum; ou, melhor, foram a vários. Aos poucos, ele foi montando a orquestra que queria, com músicos que encontrava por meio da sinagoga ou eram recomendados pelo rabino. Também inclui filhos e netos dos sobreviventes do nazismo.
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Às vezes, quando viaja, leva um ou dois músicos com ele. Seu repertório é de música klezmer, estilo judaico típico da Europa Oriental antes da guerra.
Começou tocando na própria sinagoga e logo recebeu convites para ir a outras cidades, como Miami e Las Vegas. Visitou vários estados americanos e outros países, como Israel, Polônia e Alemanha. Também foi a Auschwitz.
Saul Dreier, em foto de 2017, em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim.
Fabrizio Bensch/Reuters
"O céu se abriu. Shows, pessoas, entrevistas, jornais, televisão. O que aconteceu comigo em quase cinco anos? Eu me tornei uma celebridade!"
E virou mesmo: Saul já deu entrevista a vários veículos da imprensa internacional, como a BBC, a rede americana de televisão PBS, o "New York Times" e "Times of Israel".
Quando viaja, leva uma mensagem de paz - e de lembrança, para que outros não esqueçam do que viveu.
Campos de concentração
Saul segurando uma foto dele no campo de concentração de Mauthausen.
Arquivo pessoal/Sylvia Kahana
Antes de ser mandado para o primeiro campo de concentração, Saul chegou a viver em um gueto, junto com a família, em Cracóvia. Conseguiu ficar ali por um tempo com a mãe, a irmã e a avó. Mas a situação mudou.
"Os alemães começaram a levar pessoas para o crematório. Minha mãe foi a primeira a ir. Eles iam para os trens e [os nazistas] os levavam embora. Depois descobrimos para onde eles iam", narra.
Saul segurando uma foto da família que perdeu no Holocausto.
Arquivo pessoal/Sylvia Kahana
Aos 16 anos, com o pai e a irmã também já assassinados pelos nazistas, ele foi mandado para o campo de concentração de Płaszów, perto de Cracóvia. Faltava comida, e os prisioneiros tentavam manter um pouco de alegria com a música - que ajudou a mantê-lo vivo, diz.
Saul começou a marcar as batidas das músicas com colheres, em um campo de concentração na Polônia.
Reprodução/Facebook
"Havia um cantor que costumava cantar em uma sinagoga em Cracóvia. Eu tinha duas colheres e fazia a batida", conta.
O polonês calcula ter perdido entre 25 e 30 membros da família para o nazismo. Só ele, uma tia e uma prima sobreviveram — as duas tinham sido incluídas em uma das listas de Schindler e mandadas ao campo de Brünnlitz, na Tchecoslováquia (em uma área que hoje é a República Tcheca). 
Saul tocando no dia 2 de junho na Parada de Israel, em Nova York.
Arquivo pessoal/Sylvia Kahana
Ele e a prima conseguiram se reencontrar em 2012, graças a uma iniciativa da Cruz Vermelha; antes disso, um não sabia que o outro estava vivo. Outros parentes tinham fugido da Polônia antes ou durante a guerra, alguns deles para o Brasil.
Saul passou por três campos de concentração nazistas: Płaszów (onde trabalhou em uma fábrica de Schindler), Mauthausen e Linz.
Arte G1
Do campo em Płaszów - onde trabalhou em um subcampo que tinha uma das fábricas de Schindler - foi levado para o campo de Mauthausen; e, então, para outro em Linz, também na Áustria, onde foi libertado. Dali, levaram-no para um campo de pessoas deslocadas pela guerra na Itália, país onde ficou cinco anos. Foi ali que se reencontrou com a música.
"Alguém do comando do campo trouxe um piano e um conjunto de bateria. Pediram voluntários. O cara para o piano se voluntariou, e eles não tinham ninguém para a bateria. Aí eu me voluntariei", conta.
Depois da guerra, Saul passou um tempo em um campo para pessoas deslocadas pela guerra, onde também tocou bateria.
Reprodução/Facebook Saul Dreier
Viveu uma vida inteira nos Estados Unidos. Emigrou para lá em 1949: primeiro morou no Brooklyn, depois em Nova Jérsei, e, então, na Flórida. Casou-se, teve quatro filhos, nove netos e dois bisnetos. Começou trabalhando como soldador em uma fábrica e, depois, saiu para abrir o próprio negócio.
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Não tocou mais bateria até aquele dia, em 2014, quando leu sobre a história de Alice Herz-Sommer. Em 2016, perdeu a esposa, Clara, e há 29 anos enfrentou um câncer de estômago que o deixou com um estômago "bem pequeno".
Saul faz sua primeira apresentação em São Paulo nesta terça (13).
Arquivo pessoal/Sylvia Kahana
"Eu toco bateria porque eu amo tocar música. Eu amo música. Tocar bateria me mantém vivo", declara.
A apresentação de Saul será parte do show beneficente anual da Ten Yad, no Anhembi, na Zona Norte de São Paulo. Os ingressos estão à venda.

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