Brasileiros na Alemanha: família perde tudo, enfermeira salva pacientes e mulher vê vizinho morrer em incêndio

Iniciado por noticias, 18, Julho, 2021, 21:34

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Brasileiros na Alemanha: família perde tudo, enfermeira salva pacientes e mulher vê vizinho morrer em incêndio

Europa Central sofre com as piores enchentes desde a década de 1960. Alguns brasileiros que viveram o drama das inundações de perto relatam o que aconteceu durante os momentos de perigo. O rio Ahr transborda e destrói casas em Insul, na Alemanha, em 15 de julho de 2021
Michael Probst/AP
A região da Europa Central foi atingida por tempestades que fizeram rios transbordarem e levar muita coisa pelo caminho. Mais de 120 pessoas morreram e milhares estão desaparecidas.
O país mais afetado é a Alemanha, onde mais de 100 pessoas morreram. Alguns brasileiros que moram nas cidades afetadas deram seus relatos ao G1. Leia-os abaixo:
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A família que perdeu tudo
Imagem da casa de Marcela da Silva Amandio em Bad Neuenahr Ahrweiler, na Alemanha
Acervo Pessoal/Marcela da Silva Amandio
Marcela da Silva Amandio mora com o marido, Lucas, e a filha de 7 anos em Bad Neuenahr Ahrweiler.
O bairro foi devastado pela água. O temporal destruiu carros, casas e a estrutura da cidade.
"Por volta das 20h de quinta-feira passou um carro com um alto-falante pelo bairro. Eu não falo a língua e não entendi muita coisa. No grupo de mensagens por aplicativo de pais de colegas da minha filha começaram a mandar mensagem dizendo que na sexta-feira não teria aula". A filha de Marcela estava dormindo.
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Às 22h, ela conta, tocou uma sirene que é acionada quando há emergências. Depois disso, a vizinha tocou a campainha de sua casa.
"Ela disse que eu precisaria guardar o carro, porque a água estava chegando. Eu disse que não tenho carteira de motorista, e que precisaria esperar meu marido", diz. Lucas, o marido, trabalha em um restaurante na frente da casa onde a família vive.
A vizinha "fez uma cara de espanto, e disse que precisaria ser naquele momento", diz. Ela resolveu manobrar o carro.
Nessa hora, o marido, Lucas, estava saindo do restaurante. Ele ouviu gritos e foi ver o que era.
Os dois pegaram as roupas da filha, alguns documentos, alguns eletrônicos e foram para a casa da vizinha. A menina estava assustada e não queria sair de casa.
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Enquanto eles levavam alguns objetos para a casa da vizinha, a água entrou na casa deles.
"A água estava só na altura do pé, mas em segundos subiu para a coxa. Foi muito rápido, ficamos desesperados. Minha filha achou que ia morrer porque não sabe nadar. Eu também fiquei nervosa, mas me controlei para que ela não ficasse tensa."
Depois de um tempo, a casa da vizinha também ficou vulnerável. Eles resolveram subir em uma laje para se proteger da água aumentava de nível. O problema é que não havia escada.
A família e os vizinhos subiram se equilibrando com uma calha —o marido, o último a subir, teve mais dificuldades, porque não havia mais ninguém para empurrá-lo.
Os três e os vizinhos passaram a noite nessa laje, no frio, sem roupas e com a casa tomada pela água.
"Demos sorte porque não choveu à noite. Eu estava de shorts, eu cheguei a cair na água e estava molhada. Alguns vizinhos conseguiram jogar cobertores e toalhas para que nós nos protegêssemos. Ainda colocamos sacolas de plásticos para nos esquentarmos. Nós três dormimos próximos para nos esquentarmos, abraçados. Em um momento achei que se não morrêssemos afogados, seria de frio", conta ela.
Marcela da Silva Amandio e a filha durante a madrugada que tiveram que passar na laje da casa da vizinha
Acervo Pessoal/Marcela da Silva Amandio
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Da laje da vizinha, ela viu os vidros do restaurante onde o marido trabalha arrebentarem com a força da água. Um carro ainda bateu na frente do local. Eles ligaram para a polícia, mas não havia gente para ir até lá.
Às 5h, a água começou a baixar.
Alguns dos trabalhadores do restaurante conseguiram levar uma escada e a família e os vizinhos puderam descer da laje.
O carro da família, comprado há dois meses, está em uma pilha com mais de 30 veículos. A polícia não deixou eles se aproximarem, pois havia um vazamento de gás em um dos carros.
Eles foram andando até a casa de dois amigos brasileiros. "Toda a cidade está destruída. Estamos sem água nem energia.  Nós compramos comida enlatada. Nossa família fez uma vaquinha em menos de 24 horas chegou algum dinheiro. Não sabemos quando vamos conseguir voltar para casa", ela conta.
Enfermeira salva pacientes
A enfermeira Lívia Nogueira, de 30 anos, do Rio de Janeiro, mora em Erfstadt, na Alemanha, há 9 meses.
Na quinta-feira, antes de ir para o hospital onde ela trabalha, ela soube que o subsolo do prédio estava inundado, e por isso não foi de carro. Na quarta-feira havia chovido o dia todo, mas na quinta-feira já havia parado.
O prédio estava sem luz, mas ela e os colegas começaram a trabalhar normalmente.
Lívia Nogueira depois de ter ajudado a retirar pacientes de um hospital que inundou em Erfstadt
Acervo Pessoal/Lívia Nogueira
O hospital é térreo. Os quartos todos têm portas e janelas para fora, para uma espécie de jardim.
Por volta das 10h, um colega dela disse que a água estava chegando. Ela entrou no quarto de um dos pacientes para tirá-lo de lá. Nesse momento, ela viu a água chegando pela janela. "Deu um desespero. A água estava vindo muito rápido", ela conta.
A água entrava por baixo das portas dos quartos dos pacientes.
Ela e os outros enfermeiros pegaram os pacientes dos quartos e levaram para um corredor. Foi uma solução temporária: logo a água começou a inundar os corredores também.
Lívia levou os pacientes para um outro canto do hospital.
A água não era barrenta, mas estava suja. O pior não era a consistência, mas, sim, a velocidade.
"A água não foi subindo aos poucos, pelo contrário, veio muito rápido; houve um momento que em 3 ou 5 minutos estava na altura do joelho", ela conta.
O problema com os pacientes não terminou. Depois de tirá-los do quarto, levá-los para três outros lugares diferentes do hospital, começaram a gritar nos corredores que seria preciso tirá-los de lá.
Ela e os outros profissionais saíram do hospital empurrando os pacientes —alguns deles em camas.
"Chegamos no jardim, mas de lá precisamos levá-los até a pista da rua. E isso aconteceu enquanto a água continuava a subir. Foi o pior momento: tivemos que empurrar a cama onde tinha grama e lama e onde o chão não era plano. Nessa parte pior, devemos ter andado uns 200 metros até chegarmos na pista".
O difícil, diz ela, foi atravessar um terreno irregular com um paciente em uma cama.
"Eu estava sem força, cansada. Tinha que levantar a cama para conseguir que a roda andasse", diz.
Na pista de carros, ela esperou os bombeiros chegarem. "Eles chegaram de carro, de caminhão, chegou até um trator e botes também", conta Livia.
O hospital foi interditado Uma parte dos pacientes foram para outros hospitais, uma outra parte foi levada para uma escola que está sendo usada como abrigo —há cerca de 100 pessoas lá.
Casa do vizinho em chamas
A brasileira Sintique Amaral de Lima mora perto do rio em Leichlingen, na Alemanha. "Esse rio já deu problemas no passado, algumas ruas ficaram alagadas", ela conta.
Na terça-feira, ela estava se preparando para dormir quando uma vizinha bateu na porta. A água estava chegando.
"Eu respondi: 'Mas que água?', e já percebi o que estava acontecendo. Foi só o tempo de mandar as crianças para dentro de casa", ela conta.
O marido chegou depois de cerca de 10 minutos.
A água não chegou a entrar na casa deles, mas, sim, em um porão onde eles guardam coisas.
A família passou a noite ouvindo o barulho da água pelas paredes.
O problema era que eles não tinham como sair. "Meu filho, de 14 anos, tentava ajudar, mas ele estava com medo. Minha filha ficou apavorada, mas consegui colocá-la para dormir. Ao longo da madrugada, a água foi baixando."
"Eu acordei por volta das 5h. Quando abri a janela, vi que a casa de um vizinho estava queimando", ela conta.
Tentaram apagar o fogo usando a água de uma piscina pública do bairro, mas não foi o suficiente. Um homem morreu no incêndio.
Sintique Amaral de Lima, brasileira que vive em Leichlingen, na Alemanha
Acervo Pessoal/Sintique Amaral de Lima
Sintique e a família foram para a casa da sogra, que fica em uma região da cidade onde houve menos problemas.
"Precisamos esperar até amanhã para a água toda sair. Daí vamos ver quais os problemas, se houve consequências no prédio", ela conta. A expectativa é voltar para a casa só na semana que vem, ela conta.

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