'Até a recuperação de pacientes negros em enfermarias é menor que a dos brancos', afirma professor

Iniciado por noticias, 14, Junho, 2020, 15:00

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'Até a recuperação de pacientes negros em enfermarias é menor que a dos brancos', afirma professor


   Em seminário on-line, lideranças denunciaram o impacto do racismo estrutural e da desigualdade na pandemia Numa iniciativa do Fundo de População das Nações Unidas e da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, o seminário on-line "População negra e a Covid-19", realizado na semana passada, reuniu quatro lideranças para discutir a relação do racismo e da desigualdade com a pandemia. Alexandre da Silva, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, questionou: "a Covid-19 é realmente democrática? O que a pandemia tem demonstrado é a vulnerabilidade de velhos, negros e pobres. A letalidade é maior entre negros e pardos e a recuperação de pacientes negros em enfermarias é menor que a dos brancos. Enquanto 76% dos brancos se recuperam, isso acontece com 57% dos negros. Nas UTIs, a proporção de óbitos é de 59% para brancos e 74% para negros". De acordo com o Ministério da Saúde, entre 10 de abril e 18 de maio, um período de quatro semanas, a porcentagem de pacientes mortos por Covid-19 entre pretos e pardos passou de 32,8% para 54,8%.
Lúcia Xavier, coordenadora da ONG Criola
Criola.org.br
Ele alertou que mesmo os dados epidemiológicos relativos aos negros podem indicar enfermidades que, na verdade, estão atreladas à pobreza e à desigualdade: "vou usar, como exemplo, o fato de os negros terem mais dificuldade de absorção da vitamina D, que tem sido considerada um fator de proteção contra o novo coronavírus. A questão é que talvez não possamos afirmar que os negros nasçam com uma pré-disposição a doenças, porque a adversidade começa no pré-natal, que é de pior qualidade, e se estende ao longo de toda a existência. Nossas vidas negras importam!".
A assistente social Lúcia Xavier, coordenadora da ONG Criola, afirmou que já vivíamos uma crise política, econômica, social e sanitária: "a Covid-19 só aumentou a visibilidade da opressão e desigualdade. Trouxe à tona a necessidade de um debate sobre o papel do Estado nas políticas públicas. Desde 2014, tornou-se dominante a ideia de que o Estado deveria se ausentar, reduzir-se ao mínimo, e o mercado se encarregaria do resto. Isso levou o sistema de saúde ao colapso antes mesmo da pandemia". Na sua avaliação, embora fosse de conhecimento geral o quadro de dificuldades da população negra, composta em sua maioria de trabalhadores informais, "o que se descortinou foi um fosso muito mais profundo, um cenário de pessoas desprovidas de qualquer proteção. Os negros representam a maior parte da população do país, mas são os que recebem serviços de pior qualidade. O enfrentamento da pandemia tem sido produzida pela própria comunidade, o que chamamos de 'nós por nós'. A sociedade não quer abrir mão de seus privilégios para integrar a população negra".
A ativista Graça Samo, coordenadora internacional da Marcha Mundial das Mulheres
YouTube / TV UFSC
Juvenal Araújo Jr., subsecretário de políticas de direitos humanos e igualdade racial no Distrito Federal, lembrou que, até 2017, nos atendimentos feitos pelo SUS, não havia o quesito raça/cor: "isso impossibilitava uma avaliação de quão efetivo era o sistema de saúde para a população negra. Entre os mais de 5.500 municípios brasileiros, apenas 80 têm um órgão de promoção de igualdade racial". Por fim, a moçambicana Graça Samo, coordenadora internacional da Marcha Mundial das Mulheres, lembrou que seu país enfrentou, no intervalo de um ano, dois ciclones. "Hoje, é a Covid-19.  Amanhã serão outras vulnerabilidades. Temos que repensar todo o sistema, a começar pela questão nutricional. A soberania alimentar dos povos é fundamental", ressaltou.

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