Governo britânico é novamente atacado por suspeita de deportação de imigrantes caribenhos

Iniciado por noticias, 08, Fevereiro, 2019, 09:01

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Governo britânico é novamente atacado por suspeita de deportação de imigrantes caribenhos


   Um jato privado da Titan Airways deixou Birmingham em direção à Jamaica nesta quarta-feira (6) pela manhã, carregando 35 pessoas que estavam supostamente sendo expulsas do Reino Unido. A informação é do jornal inglês "The Guardian".  A primeira-ministra britânica, Theresa May
Liam McBurney/Pool via Reuters
Um jato privado da Titan Airways deixou Birmingham em direção à Jamaica nesta quarta-feira (6) pela manhã, carregando 35 pessoas que estavam supostamente sendo expulsas do Reino Unido. A informação é do jornal inglês "The Guardian", que aponta uma ligação com o escândalo Windrush, revelado em 2018.
Na época, vieram à tona diversos casos de deportação, exílio forçado e tratamento hostil por parte das autoridades, resultando em uma pressão sobre o governo britânico a compensar financeiramente centenas de cidadãos.
O "Guardian" afirma que a justificativa do voo são os antecedentes criminais dos passageiros. O ministro do Interior, Sajid Javid, disse que "cada pessoa no avião que está sendo deportada é um estrangeiro ameaçador para o país, condenado por vários e graves crimes".
O jornal inglês, no entanto, questiona a gravidade dos delitos e ressalta que alguns dos deportados tinham cometido crimes "menores".
Os militantes defensores dos direitos dos imigrantes argumentam que vários desses estrangeiros são vítimas da política migratória britânica e da "hostilidade" do governo. Cinco deles, incluindo um ex-soldado do Exército, receberam uma condenação de última hora, segundo um advogado.
Cerca de 500 mil pessoas oriundas do Caribe migraram ao Reino Unido entre 1948 e 1971. Elas ficaram conhecidas como a geração "Windrush" e obtiveram autorização para permanecer no país, por tempo indeterminado, mas as modificações da legislação sobre a imigração, em 2012, dificultaram a vida daqueles que chegaram enquanto ainda eram crianças, sem documentos oficiais, e não puderam provar suas situações no país.
Alguns foram colocados em centros de detenção ou expulsos, independentemente do fato de viverem no Reino Unido há décadas.
Caso Thompson
Em março de 2018, a imprensa local publicou relatos de vários desses cidadãos, contando como, nos últimos anos, eles perderam seus empregos e seus direitos ao bem-estar social porque não conseguiam provar que estavam no país legalmente.
O caso mais emblemático é o de Albert Thompson, um jamaicano de 63 anos que veio para o Reino Unido com os pais na adolescência. Thompson trabalhou como mecânico e pagou impostos por 30 anos, mas nunca tirou um passaporte nem documentos que pudessem comprovar seu direito de residir no país.
Um dia, diagnosticado com câncer de próstata, ele foi recusado pelo sistema de saúde público para receber radioterapia. Depois desse relato, vieram a público centenas de outros casos de demissões injustas, despejos, deportações e exílio forçado.
A primeira reação da primeira-ministra, Theresa May, foi de dizer que o "Ministério do Interior não daria prioridade ao fato".
Mas diante dos outros relatos e da dimensão que o escândalo ganhou, May não teve outra saída senão se retratar e fazer promessas. Ela chegou a afirmar que Albert Thompson receberia radioterapia. 
Pente fino
Em 2010, o então primeiro-ministro David Cameron prometeu reduzir dramaticamente o número de imigrantes ilegais no país. E coube justamente a Theresa May, que era a ministra do Interior na época, implementar medidas para tentar passar um pente fino em pessoas que já viviam no país ilegalmente.
Tanto May quanto Cameron chegaram a dizer que queriam criar um ambiente tão hostil para os imigrantes ilegais que eles não veriam outra saída senão voltar para seus países.
Todo empregador, todo proprietário de imóvel, todas as agências governamentais e até o serviço de saúde pública passaram a exigir de cada cidadão um passaporte ou documentos que provem residência legal no país.
O problema é que essas medidas acabaram atingindo os membros da geração Windrush, porque muitos deles – quase 60 mil pessoas – nunca tiveram documentos provando sua legalidade.
O Reino Unido, ao contrário do Brasil, não emite carteira de identidade. Então, se essas pessoas nunca fizeram um passaporte, por exemplo, elas não conseguem provar seu direito à cidadania. A situação se agravou porque o governo passou a não aceitar comprovantes de residência, emprego ou pagamento de impostos como prova da legitimidade da permanência dessas pessoas.

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