ANÁLISE: Por que a premiê britânica está na corda bamba?

Iniciado por noticias, 17, Novembro, 2018, 03:01

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ANÁLISE: Por que a premiê britânica está na corda bamba?


   Theresa May corre o risco de ser derrubada pela linha-dura do Partido Conservador, que rejeita o acordo do Brexit com a União Europeia Theresa May defende acordo preliminar do Brexit no Parlamento britânico
AFP / PRU
A primeira-ministra britânica, Theresa May, prenunciou dias difíceis pela frente, na noite de quarta-feira (14), após sair de uma tumultuada reunião de cinco horas com membros de seu Gabinete. May tentou convencer os britânicos de que o acordo do Brexit com a União Europeia estava garantido. A aparente segurança, contudo, não resistiu uma madrugada. Antes de enfrentar o Parlamento, a premiê foi atropelada pela renúncia de quatro membros do governo, descontentes com o acordo.

May está de frente para o precipício, levada até ali não pela oposição trabalhista, mas por uma frente rebelde de seu próprio partido, o Conservador. É esta ala dos tories que defende a radicalização do Brexit e ameaça sua permanência à frente da legenda, do gabinete e do Reino Unido. E que já começa a se articular, com mecanismos concretos, para provocar um voto de desconfiança e forçar a saída da premiê.

Líder do grupo radical do Brexit, o deputado Jacob Rees-Mogg tomou a dianteira e apresentou uma carta ao presidente do Comitê de Apoio 1922 propondo uma votação para retirar a premiê do comando do partido. Se mais 47 deputados conservadores o seguirem, May poderá ser submetida ao voto de confiança. Para derrubá-la, são necessários 150.

Definir este movimento de conservadores como fogo amigo é subestimar a resistência à premiê e à sua forma de conduzir o Brexit. No tumultuado processo para alinhavar um acordo com a União Europeia, May foi esnobada por seus colegas do bloco e chamada de vassala por seus correligionários.

A renúncia mais emblemática desta manhã é a do secretário do Brexit, Dominic Raab, eurocético convicto, que deveria ser a interface de May no Parlamento e ajudá-la a vender o acordo para obter, assim, a aprovação na votação programada para dezembro. Mas Raab preferiu pular fora do governo, seguido, entre outros, pela secretária do Trabalho e Aposentadorias, Esther McVey, pelo secretário de Estado para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara e pela secretária de Estado britânica do Brexit, Suella Braverman.

Diante da caótica e ruidosa reação do Parlamento às advertências da premiê, o acordo de 585 páginas, com 185 artigos e três protocolos que garantiria uma transição pacífica para a retirada do Reino Unido, também está sob ameaça.

"Votar contra o acordo nos levaria de volta à estaca zero", resumiu a ministra ao plenário. Enquanto isso, a libra despencava e emissários da União Europeia, como o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, mandavam uma dura advertência: a UE está preparada para o Brexit com ou sem acordo.
O maior entrave ao divórcio entre Reino Unido e o bloco europeu é a fronteira de 499 quilômetros entre a Irlanda do Norte e a Irlanda. O acordo entre a premiê britânica e a UE prevê que, enquanto não houver um acordo comercial bilateral definitivo, a Irlanda do Norte terá uma relação específica com o bloco, com o objetivo de evitar uma fronteira com a República da Irlanda, por onde passam diariamente 35 mil pessoas. 

Esta situação especial para a Irlanda do Norte, mais alinhada com a UE, enfurece a ala radical do Brexit e deixa a premiê vulnerável em outra frente: se não contemplar a província, perde o apoio do Partido Unionista da Irlanda do Norte, o quarto maior do Parlamento e um dos pilares de seu governo.  Com tantos obstáculos em sua base, a oposição trabalhista acabou por tornar-se o menor dos problemas de Theresa May.
Sandra Cohen
Arte/G1

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