ONU alerta que coronavírus deixará 45 milhões de novos pobres na América Latina

Iniciado por noticias, 10, Julho, 2020, 23:40

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ONU alerta que coronavírus deixará 45 milhões de novos pobres na América Latina


   Mulheres, indígenas, negros, imigrantes e refugiados são desproporcionalmente afetados pela pandemia, segundo a organização. Um menino carrega um pedaço de alumínio perto de pequenas casas feitas de barro, paus e folhas de alumínio criadas em um terreno baldio e onde famílias estão se instalando por não podem mais pagar aluguel no município de Sucre, perto de Caracas, na Venezuela, em junho de 2020
Manaure Quintero/Reuters
Cerca de 45 milhões de pessoas cairão da classe média para a pobreza na América Latina e no Caribe, a região mais desigual do mundo, devido à pandemia de coronavírus, alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, nesta quinta-feira (9).
"Em um contexto em que já existem grandes desigualdades, altos níveis de trabalho informal e serviços de saúde fragmentados, as populações e pessoas mais vulneráveis são mais uma vez as mais afetadas", disse Guterres em uma mensagem de vídeo, transmitindo um relatório detalhando dos efeitos devastadores do vírus na região.
Epicentro da pandemia, a América Latina e o Caribe já registram mais de três milhões de casos confirmados e mais de 140 mil mortes, principalmente no Brasil, no México, no Peru e no Chile.
A ONU estima que a queda do PIB regional este ano será de 9,1%, a maior em um século.
Mulher recebe alimentos distribuídos pela organização não governamental Central Única das Favelas (CUFA), que disponibiliza ajuda para famílias pobres em meio ao surto de doença por coronavírus (Covid-19) na favela de Heliópolis, em São Paulo
Amanda Perobelli/Reuters
"Risco de fome"
A organização prevê que, após a pandemia, a taxa de pobreza aumentará 7% em 2020, um aumento de 45 milhões de pessoas, com o qual o número total de pobreza e extrema pobreza na região aumentará para 230 milhões (37,2% da população).
A organização estima que a pobreza extrema crescerá 4,5%, cerca de 28 milhões de pessoas, para afetar um total de 96 milhões (15,5% da população) que estão "em risco de fome", disse Alicia Bárcena, secretária executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Fome pode aumentar 269% na América Latina com pandemia, diz ONU
A pobreza cresce, em parte, devido à aguda crise econômica causada pelo aumento do desemprego como resultado da desaceleração da economia devido à Covid-19.
Cerca de 80% da população da região vive em cidades, milhões delas superlotadas, sem acesso a água potável e serviços de saúde.
A ONU acredita que o desemprego aumentará de 8,1% no ano passado para 13,5%, o que significaria que a região teria mais de 44 milhões de desempregados este ano, cerca de 18 milhões a mais que em 2019.
A extrema pobreza na América Latina
Mulheres, indígenas, negros, imigrantes e refugiados são desproporcionalmente afetados pela pandemia, segundo a ONU.
Aproximadamente 170 milhões de crianças e adolescentes da região cujas escolas fecharam e não têm acesso total à internet encontram-se, segundo Bárcena, em um "fosso digital".
Após a pandemia, a diferença entre ricos e pobres se aprofundará ainda mais, especialmente nos maiores países, Brasil e México, disse.
Para Guterres, os níveis de desigualdade são "insustentáveis".
"Para melhor reconstruir, é necessário transformar o modelo de desenvolvimento da América Latina e do Caribe", afirmou o chefe da ONU. "Isso implica em criar sistemas tributários mais justos, promover a criação de empregos decentes, fortalecer a sustentabilidade ambiental e reforçar os mecanismos de proteção social", explicou.
Pessoas usando máscaras protetoras fazem fila para receber doações de botijões de gás de cozinha na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
Pilar Olivares/Reuters
Ajuda
As exportações da América Latina e do Caribe cairão 20%, assim como a chegada de remessas de imigrantes que trabalham no exterior, segundo a ONU.
"No caso da América Latina e do Caribe, a comunidade internacional deve fornecer liquidez, assistência financeira e medidas de alívio da dívida", afirmou Guterres.
O relatório pede aos governos que façam mais para reduzir a pobreza, a insegurança alimentar e a desnutrição, por exemplo, por meio de uma renda básica para emergências e alívio da fome que equivale à linha nacional de pobreza.
A ONU estima que o custo desses pagamentos aos pobres por seis meses representaria 1,9% do PIB regional.

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