Sem rivais, Ortega capitaneia farsa eleitoral na Nicarágua

Iniciado por noticias, 25, Outubro, 2021, 01:28

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Sem rivais, Ortega capitaneia farsa eleitoral na Nicarágua

A duas semanas das eleições, ditador concorre sozinho e deve se eleger pela quinta vez
 Homem passa por um outdoor de propaganda do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no início da campanha para as eleições presidenciais, em Manágua, em setembro
Reuters/Maynor Valenzuela
Daniel Ortega varreu o campo de opositores e, a duas semanas das eleições, está pronto para se eleger pela quinta vez presidente-ditador da Nicarágua, num pleito que virou sinônimo de farsa. Ele concorre praticamente sozinho, já que mandou para a prisão os sete pré-candidatos que o desafiaram.
Os outros cinco partidos nanicos que disputam com Ortega e a mulher Rosario Murillo são considerados aliados do regime. Estão na cédula apenas para fazer figura e dar um verniz democrático a uma eleição que não terá observadores internacionais e já caiu no descrédito antes mesmo de as urnas abrirem.
Aos 75 anos, o ditador se valeu de manobras na Constituição que lhe permitiram perpetuar-se no poder. Como observou o escritor Sergio Ramirez, vice-presidente em um de seus mandatos, na Nicarágua a história tem um mecanismo vicioso que se repete: uma ditadura provoca uma revolução para derrubar um ditador e essa revolução cria um ditador que, por sua vez, inicia um ciclo de opressão.
 Ex-sandinista, Ramirez também foi alvo do regime. Fugiu do país e buscou exílio na Espanha, após ter a prisão decretada em setembro. Na abertura da assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), esta semana, ele traçou um paralelo entre as duas dinastias que dominaram a Nicarágua:
"Somoza gera Ortega, e o ditador ofendido com a liberdade de expressão, fecha e ocupa a mídia, prende jornalistas ou força-os ao exílio. É a história mordendo o rabo."
Todos os opositores que se apresentaram para concorrer às eleições foram defenestrados. Ou melhor, estão há pelo menos quatro meses encarcerados, sob acusações de conspiração, traição à pátria, lavagem de dinheiro, amparadas por uma lei aprovada pelo Parlamento que funciona como artifício para afastar críticos do regime.
Cinco ex-presidenciáveis estão na prisão "El Nuevo Chipote", em Manágua, e dois em prisão domiciliar, como Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Chamorro. Ao todo, 39 opositores --  entre eles ex-funcionários do governo e ex-aliados sandinistas -- foram presos nos meses que antecederam a campanha eleitoral.  
A mais recente empreitada do regime atingiu o presidente da associação de empresários do país, Michael Healy, preso na quinta-feira, junto com o vice-presidente, Álvaro Guerra. Ele substituía o antigo líder dos empresários, José Adán Aguerri, que caiu em desgraça do ditador por apoiar as demandas pelo fim do regime e  foi encarcerado meses antes.
A devassa do regime no campo opositor é ilimitada e abusa da crueldade. O prisioneiro político Max Jerez não teve autorização para visitar a mãe doente e ficou 26 dias sem saber que ela havia morrido.
Ortega transformou a Nicarágua numa grande prisão, conforme resumiu o escritor Sergio Ramirez em sua explanação na SIP. "A ditadura quer um país imobilizado pelo medo e o silêncio enquanto prepara uma farsa eleitoral que não tem a menor legitimidade", prosseguiu.
 A perseguição, contudo, é também um indício de medo exposto pelo governo. Uma pesquisa da respeitada CID-Gallup divulgada nesta semana confirmou os piores temores do ditador: se fosse possível, sete em cada dez nicaraguenses votariam num dos candidatos presos pelo regime. Apenas 19% escolheriam Ortega.  
Polícia da Nicarágua invade sede do maior jornal do país

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