Juiz da Itália adia audiência de caso de líder de direita que impediu desembarque de imigrantes

Iniciado por noticias, 05, Outubro, 2020, 03:01

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Juiz da Itália adia audiência de caso de líder de direita que impediu desembarque de imigrantes

Matteo Salvini pode ser condenado e perder direitos políticos por até seis anos. Ele é acusado de abuso de poder e sequestro de pessoas. O ex-ministro de Interior italiano, Matteo Salvini, que enfrenta um processo na Sicília
Andreas Solaro/AFP
Na Itália, o líder de direita Matteo Salvini compareceu a um tribunal da Sicília neste sábado (3) para o primeiro dia do processo no qual ele é acusado de impedir o desembarque de migrantes resgatados no mar.
A audiência preliminar, no entanto, foi adiada para 20 de novembro pelo juiz do processo.
O julgamento pode afetar a carreira de Salvini. Ele é acusado de abuso de poder e sequestro de pessoas por ter ordenado o bloqueio do desembarque de 116 migrantes do navio da Guarda Costeira italiana "Gregoretti" quando era ministro do Interior em julho de 2019.
Veja abaixo um vídeo sobre o caso.
Justiça da Itália ordena o desembarque de imigrantes que esperavam há 19 dias num barco
Ele é um dos políticos mais populares do país. Se for condenado a mais de dois anos de prisão,  não poderá ocupar um cargo público durante seis anos, o que o deixaria de fora das eleições previstas para 2023.
Decisão sobre a força do caso
O juiz da audiência preliminar, Nunzio Sarpietro, deveria decidir se o caso é forte o suficiente para o julgamento prosseguir.
Ao adiar a questão para novembro, Sarpietro anunciou que deseja ouvir o primeiro-ministro Giuseppe Conte, assim como a atual ministra do Interior, Luciana Lamorgese, e o chanceler Luigi Di Maio.
Tentativa de fazer com que o julgamento o favoreça politicamente
"Escolhi o melhor terno para a audiência", disse Salvini ao desembarcar na quinta-feira na Sicília para três dias de encontros e manifestações organizadas sob o lema "Os italianos escolhem a liberdade".
Seu partido, Liga, encomendou camisas e ofereceu voos com passagens mais baratas a Catania para o chamado "festival da liberdade", que terá a participação de Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália.
Todos os deputados, senadores e europarlamentares de direita foram convocados para um evento a seu favor.
A polícia mobilizou 500 agentes para impedir confrontos entre os simpatizantes de Salvini e militantes de esquerda.
Salvini anunciou que pretendia se declarar diante dos juízes "culpado de ter defendido a Itália e os italianos".
Uma espécie de desafio à Justiça, que o processa por ter ordenado que os 116 migrantes permanecessem na embarcação durante quase uma semana em cumprimento a sua política de "portos fechados", que impedia a entrada dos barcos humanitários nos portos italianos.
Uma família nigeriana denunciou maus-tratos durante a permanência na embarcação.
Um documento preparado pelos advogados de defesa de Salvini alega que a decisão de bloquear a embarcação foi tomada porque a bordo estavam dois traficantes de drogas e que o tempo de espera foi necessário para garantir outro destino aos imigrantes.
Os 116 migrantes foram resgatados no Mediterrâneo depois de navegar por cinco dias à deriva.
Eles permaneceram no barco de patrulha sob o forte sol do verão e enfrentaram um surto de sarna, além de um caso suspeito de tuberculose. Quinze menores de idade foram autorizados a sair por pressão do tribunal de menores de Catania.
Os demais desembarcaram em 31 de julho, depois que Salvini, de 47 anos, anunciou que negociou um acordo com os países da UE para a transferência.
"Que um tribunal se permita julgar a linha política e de governo de um ministro é um precedente perigoso", comentou Salvini, que deseja envolver o primeiro-ministro Giuseppe Conte na questão por considerar que a decisão de bloquear a embarcação foi coletiva, de todo o governo.
Conte diz que foi Salvini que excedeu suas competências
Conte rejeita a alegação e recorda que foi justamente Matteo Salvini que aprovou um decreto especial para fortalecer suas competências como ministro devido à oposição interna a sua política de portos fechados.
O líder de direita, que pediu aos juízes que se concentrem na luta contra a máfia ao invés do seu caso, afirma que sua decisão deve ser julgada pelos italianos.
"Os italianos dirão nas próximas eleições se fiz ou não o correto", afirmou.

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