Brasileiro decide deixar Belarus por causa do coronavírus: 'medo de morar onde pandemia não é levada a sério'

Iniciado por noticias, 09, Maio, 2020, 21:10

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Brasileiro decide deixar Belarus por causa do coronavírus: 'medo de morar onde pandemia não é levada a sério'


   Preparador de goleiros está com retorno marcado para o Brasil. Presidente do país do leste europeu nega gravidade do coronavírus e contraria OMS ao sugerir vodka e sauna para combater doença. Preparador de goleiros brasileiro Nivaldo Ciriaco vai deixar Belarus e voltar para São Paulo com a família
Arquivo pessoal
O preparador de goleiros brasileiro Nivaldo Ciriaco resolveu antecipar o fim do seu contrato com o Dínamo Minsk, em Belarus, por causa da pandemia do novo coronavírus. Nas últimas semanas, ele viu o número de crianças para quem dava aula diminuir e passou a temer pela segurança financeira da família, que vive nesse país da antiga União Soviética.
"Eu sei que a situação no Brasil não está fácil, mas o medo do vírus me venceu. Desisti de Belarus por enquanto. Estou indo embora com o coração partido, mas tenho muito medo de morar em país que não leva a pandemia a sério", conta Ciriaco.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, no poder há 24 anos e considerado o último ditador da Europa, figura entre os poucos líderes que insistem em negar a gravidade da pandemia de Covid-19, que já matou mais 267 mil pessoas em todo o mundo.

Depois de classificar iniciativas como o lockdown adotado em vários países como "psicose", Lukashenko chamou a atenção internacional ao dar sua receita para combater o novo coronavírus: ir à sauna e beber vodka. A medida nunca foi considerada eficiente por autoridades internacionais de saúde para agir contra o vírus.
"Se o governo dissesse que temos que tomar providências, todo mundo seguiria um protocolo. Como a pandemia não está sendo tratada da forma que deveria, causa medo e preocupação", conta o preparador. Ele já tem as passagens para voltar para São Paulo nos próximos dias com a mulher e os dois filhos – uma menina de 10 anos e um menino de 3.
Presidente contraria OMS e não adotou distanciamento
Presidente de Belarus sugere tratar o coronavírus com vodka e sauna
Lukashenko tem contrariado todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e não tomou nenhuma atitude preventiva. O campeonato de futebol do país, por exemplo, segue em andamento. Nenhuma medida para promover o distanciamento social foi tomada até agora. O presidente manteve, inclusive, a tradicional parada militar que marca a vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, marcada para este sábado (9).   
Lukashenko também não evita aglomerações. Em um jogo de hockey no gelo em um torneio amador, em março, declarou que "não estava vendo nenhum vírus" na arena lotada.
'Ninguém vai morrer de novo coronavírus', diz presidente de Belarus
Alexander Lukashenko, presidente da Belarus, no centro, durante jogo de hóquei de gelo no dia 28 de março de 2020
Andrey Pokumeiko/BelTA/Divulgação/Via Reuters
No início da pandemia, os boletins sobre o novo coronavírus em Belarus eram esparsos e não mencionavam mortes. No entanto, após uma visita de uma comissão da OMS, houve uma evolução mais rápida no número de óbitos. Ainda assim, o número de vítimas no país não é tão alto.
Oficialmente, pouco mais de 100 pessoas morreram por complicações da Covid-19 e mais de 19 mil foram infectadas pelo novo vírus no país de 9,5 milhões de habitantes.
Aos poucos, os relatos de casos de contaminação se espalharam e parte dos moradores começou a se dar conta da gravidade da situação e a olhar com desconfiança para as estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde.
Proteção por conta própria
Uma mulher com máscara passa por bandeiras nas cores vermelho e verde enquanto a cidade de Minsk, em Belarus, se prepara para o desfile militar do Dia da Vitória que ocorrerá no sábado (9)
Sergei Grits/AP
Por conta própria, uma parte dos bielorrussos passou a adotar medidas preventivas, como usar máscaras no transporte público e nas lojas. Estabelecimentos comerciais passaram a disponibilizar álcool gel e a orientar os clientes a manterem um metro de distância uns dos outros.
Os pais passaram a impedir que os filhos voltassem a frequentar as aulas após as férias de março – cuja duração já tinha se estendido de uma para três semanas. Eles assinam termos de responsabilidade para que as faltas das crianças sejam abonadas e elas não percam o ano letivo, que já está no fim.
Foi assim que o brasileiro Ciriaco começou a perder parte dos alunos para quem dava aulas particulares.
"Alguns pais pediram para fazer a pausa nas aulas. Meus treinamentos foram sendo cancelados e surgiu a preocupação, não só com a questão da saúde, mas também financeira", conta.
Ciriaco, que conheceu a capital Minsk em 2015 em um mundial de futebol de salão com a seleção brasileira, lamenta deixar o país onde se estabeleceu com a família em dezembro de 2017.
"Quando falo que sou brasileiro, os olhinhos das crianças até brilham. Amo muito esse país. Não tem violência. É comum você ver crianças de sete, oito anos andando sozinhas no metrô. Não se vê assalto ou roubo no noticiário. Se tiver uma oportunidade depois que passar essa crise, eu posso voltar", afirma.
Jovens com máscaras assistem à partida de futebol da Liga Principal Feminina de futebol em Minsk, em Belarus, na quinta-feira (30)
Sergei Grits/AP
Aula de dança online
Professora de dança Márcia Mandava conseguiu recuperar 20% dos alunos depois que começou a dar aulas online na quarentena
Arquivo pessoal
Moradora de Belarus e filha de pai brasileiro, a professora de samba e reggaeton Márcia Mandava, de 27 anos, é mais uma que viu seus alunos desaparecerem com o avanço da epidemia no país: o número caiu de 50 para cinco entre março e maio.
"Meus alunos trabalham com Tecnologia da Informação ou são administradores. Quem pode está trabalhando em casa. Então, eu decidi ir para quarentena e ficar até não sei quando. Agora, uns 20% dos meus alunos estão fazendo as aulas online", afirma a bielorrussa que é filha de pai brasileiro e morou 14 anos no Rio de Janeiro.
Márcia e o marido, que segue trabalhando, usam máscaras quando entram em ônibus e nas lojas por precaução. "Mas aqui não tem nenhuma orientação oficial para isso, não."
Ela conta que seus amigos saem de casa para trabalhar, quando não podem fazer home office, e procuram só sair para ir ao supermercado.
"É do trabalho para casa, e é só. Tentamos não entrar em pânico, mas não vamos sair por aí dizendo que não há nada acontecendo."
A professora observa, porém, que muitos compatriotas, ainda que procurem ficar em casa durante os dias úteis, têm aproveitado o fim de semana para viajar para cidades e aldeias no interior.
Ela disse, ainda, que não pretende ir ao desfile militar programado para o sábado em Minsk. "Nosso presidente falou que, se nós não quisermos ir, não é obrigatório, mas o desfile vai acontecer. Minha família não vai por causa do coronavírus. Vamos ver de casa mesmo."
Bielorrussa Márcia Mandava passou a dar aulas online para não perder alunos
Arquivo pessoal
Lukashenko no poder
O desfile militar para comemorar os 75 anos do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial é um momento muito importante para Lukashenko, que concorre ao sexto mandato no 2º semestre desse ano e é muito ligado à Rússia.
Lukashenko mantém um regime autoritário desde que chegou ao poder em 1994, três anos após o país ganhar sua independência da URSS. 
Ele reprimiu violentamente protestos populares, a oposição e a mídia. A fraca oposição não foi capaz de conter as manobras para mudar a constituição e garantir que ele conseguisse se manter no poder por tanto tempo.     
Lukashenko é acusado de eliminar dissidências com a ajuda do serviço de inteligência que guarda o nome de "KGB", como na União Soviética.
A chegada de Lukashenko à presidência marca, de certa forma, a vitória da corrente bielorrussa que vê com bons olhos a aproximação com Moscou em oposição àqueles que acreditavam que o país deveria se voltar para a Europa, como aconteceu com a Estônia, Letônia e Lituânia, que atualmente integram a União Europeia (UE).
Porém, Lukashenko manobra habilmente a relação do seu país com as potências europeias, os Estados Unidos e Rússia - a reconhecida herdeira da antiga União Soviética (URSS). 
Sua relação com as potências ocidentais melhorou nos últimos anos, principalmente depois que a Rússia anexou em 2014 a Crimeia, que pertencia à Ucrânia.  Ele se manteve neutro no conflito e propôs Minsk como sede das negociações de paz. Em contrapartida, foram suspensas sanções econômicas impostas pela UE ao país em 2006, após uma repressão brutal a manifestantes pacíficos.
Tensão com a Rússia
Imagem de 10 de março de 2020 mostra Vladimir Putin fala com deputados no Congresso
Evgenia Novozhenina/Reuters
Lukashenko também procura manter uma relação privilegiada com os russos e, assim, manter viva uma certa herança dos tempos áureos da URSS, que concentrou em seu território a indústria pesada e eletrônica. 
Belarus foi membro fundador da União Econômica Eurasiática (UEE), um dos projetos favoritos do presidente russo Vladimir Putin, com o objetivo de reintegrar as antigas repúblicas soviéticas. O apoio russo ajuda o país a manter o setor industrial e agrícola relativamente bem-sucedidos.
Porém, a relação dos dois países tem passado por um momento de tensão. O presidente Putin usa a dependência de Belarus de petróleo e gás natural russos para pressionar pela reativação de um acordo entre os dois países que data de 1999, o Tratado de União de Estados, assinado na época em que Boris Yeltsin ainda liderava Rússia.
O governo russo tem condicionado a continuidade de linhas de crédito com taxas "de pai para filho" e o fornecimento de petróleo a preços muito inferiores aos de mercado em troca de uma maior capacidade de interferência em assuntos internos bielorrussos.
Face à resistência de Lukashenko, a Rússia suspendeu temporariamente em janeiro a entrega de petróleo a baixo custo, que garantia a competitividade da produção das duas grandes refinarias bielorrussas na Europa. O impacto negativo é sentido diretamente na economia, que é altamente controlada pelo governo.
Países sob regimes autoritários ignoram orientações da OMS em tempos de pandemia
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