Membros de grupo de proteção de territórios nativos do país contra a exploração de recursos naturais fizeram nesta semana primeiro encontro para alinhar estratégias. Membro da comunidade indígena Siekopaai, no Equador, durante primeiro encontro da guarda indígena encarregada de proteger territórios nativos da exploração de recursos naturais, em Sinangoe, no nordeste do país, em 10 de setembro de 2022.
Rodrigo Buendia/ AFP
Com o rosto pintado e lança na mão, guardas indígenas do Equador se reúnem na Amazônia para uma única causa: a defesa de seus territórios diante da exploração de petróleo e minério, bem como da caça ilegal.
Antes do amanhecer, às margens do rio Aguarico, na comunidade Sinangoe, na província de Sucumbíos, cerca de 300 homens e mulheres de 12 povos indígenas se reúnem ao redor de um sábio cofán (povo ameríndio) que prepara o yoko, uma bebida amarga extraída de um cipó que lhes dá força.
Em um encontro incomum, as guardas indígenas equatorianas refinam as estratégias de proteção de seus territórios. Desde muito cedo, estes grupos de voluntários percorrem a floresta, certificando-se que caçadores, garimpeiros ou petroleiros não entrem.
"A guarda não é um grupo subversivo, não é um grupo paramilitar como dizem (as autoridades), somos vigilantes do nosso território, defensores e defensoras da vida e da terra", disse à agência de notícias France Presse Alexandra Narváez, indígena cofán vencedora do prêmio ambiental Goldman por sua luta contra o garimpo em Sinangoe.
Os cofans são identificados por suas camisas verdes e tinta preta no rosto, com a qual costumam representar animais como as jiboias. Os siekopai, por sua vez, usam adornos de penas coloridas na cabeça e no nariz, e nas mulheres waorani não falta tintura vermelha ao redor dos olhos.
Ameaças crescentes
Membro da comunidade indígena cofán, no Equador, uniformizado com trajes usados por grupo que faz guarda de territórios nativos durante encontro da guarda, em setembro de 2022.
Rodrigo Buendia/ AFP
Embora usem lanças, raramente as usam contra os invasores. As guardas - explica Narváez - cumprem sua missão auxiliadas por dispositivos com GPS e armadilhas fotográficas, instaladas em certos pontos para alertar para a entrada de estranhos.
Os cofanes consagraram a floresta por ser o local de seus antepassados falecidos, aos quais se referem como "os invisíveis".
"Não temos armas, o único símbolo que temos de força, de poder, de luta e memória dos nossos ancestrais é nossa lança", acrescenta Narváez, de 32 anos.
Os indígenas da Amazônia temem pela integridade de seus territórios. A exploração do minério e os planos do governo conservador de Guillermo Lasso para dobrar a produção de petróleo fizeram soar o alerta.
Indígenas amazônicos lidam há anos com a contaminação, provocada por derramamentos de petróleo. O mais recente ocorreu em janeiro passado, quando 6.300 barris vazaram por causa do rompimento de uma tubulação. Uma reserva natural e o rio Coca foram afetados.
"As ameaças estão crescendo a cada dia", diz o ativista Lucitante à agência France Presse, e isso, acrescenta, "nos leva a refletir (...) o que vai acontecer com nossa cultura, com nossa vida".
No Equador, pouco mais de uma milhão de seus 18 milhões de habitantes se identificam como indígenas.
Nas últimas décadas, os povos originários têm demonstrado sua força com uma extraordinária capacidade de mobilização.
A guarda indígena esteve presente nas manifestações de junho contra o alto custo de vida, que deixaram seis mortos e mais de 600 feridos.
Com escudos artesanais em uma mão, lanças de madeira na outra e os narizes tapados com folhas de eucalipto para evitar o efeito das bombas de gás lacrimogêneo, foram à frente nas marchas.
Em Sinangoe, aos gritos de "Guarda, guarda!" e "Força, força!", os grupos se reúnem em uma grande esplanada para sua assembleia. Diferentemente de uma formação militar, eles preferem fazê-lo em círculo para poder ver o rosto de seus companheiros.
E só têm dois propósitos de fundo: fortalecer as guardas indígenas e formar novas em outros locais da selva.