Venezuela-Trinidad e Tobago, a trágica rota dos balseiros no Caribe

Iniciado por noticias, 18, Dezembro, 2020, 21:00

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Venezuela-Trinidad e Tobago, a trágica rota dos balseiros no Caribe

Na fuga, refugiados venezuelanos se arriscam em perigosas travessias marítimas e, na chegada, ainda são perseguidos pelo governo da ilha caribenha. Venezuelanos chegam a uma praia em Trinidad e Tobago
Lincoln Holder/Reuters
Os dramáticos naufrágios no Caribe reavivam sempre a imagem de milhares de cubanos que na década de 90 se arriscaram em balsas improvisadas na travessia marítima para a Flórida, fugindo da fome e da repressão. O novo traçado do êxodo de balseiros envolve venezuelanos, numa perigosa jornada para cruzar os 100 quilômetros entre a cidade costeira de Guiria, no leste do país, e uma das praias de Trinidad e Tobago.
Mais de 40 mil pessoas cumpriram esse destino, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Na fuga, caem nas mãos de traficantes e desembolsam pelo menos US$ 300 para alcançar terra-firme. Nem sempre conseguem. No último fim de semana, desenhou-se mais um capítulo desta tragédia: uma embarcação com 26 pessoas a bordo afundou no trajeto entre Guiria e Trinidad.
Se a travessia é bem-sucedida, os imigrantes são alvo de perseguições da polícia, ao desembarcarem. O primeiro-ministro, Keith Rowley, tem sido implacável: alega que Trinidad e Tobago está sob ataque de máfias de contrabandistas, que usam crianças como forma de pressão para a forçar a entrada de imigrantes no país.
No fim do mês passado, seu governo protagonizou um espetáculo dantesco, ao autorizar a deportação, num bote, de 28 pessoas pouco antes de uma audiência na Justiça que decidiria sobre a sua legalização. Entre os deportados, havia 16 crianças, a menor delas era um bebê de 4 meses. "Pode um bebê realmente ser delinquente?", questionou o jornal "Trinidad and Tobago Guardian."
O barco ficou por dois dias desaparecido, até ser localizado numa ilha. Seus ocupantes foram novamente enviados a Trinidad e Tobago. Diante da indignação, Rowley alegou que uma nação insular de 1,3 milhão de habitantes não pode manter as fronteiras abertas a outro país, de 34 milhões, especialmente durante a pandemia. Não convenceu mais de uma dezena de entidades e ONGs que prezam pelos direitos dos refugiados.
Como observou Louise Tillotson, investigadora da Anistia Internacional sobre o Caribe, o governo de Trinidad parece falar outro idioma. "Ao mesmo tempo que não condenam as violações massivas de direitos humanos cometidas na Venezuela, dão uma resposta centrada em proteger a segurança nacional em vez de buscar formas de cumprir seus compromissos em matéria de direitos humanos."
Em outras palavras, segundo ela, o governo de Trinidad usa a desculpa de não dispor de uma legislação nacional sob o refúgio: quem foge no intuito de salvar a própria vida está cometendo um crime.
O Acnur, a Organização Internacional para as Migrações e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos seguem a mesma linha: apelam ao combate de redes de tráfico ilegal, para assim impedir travessias perigosas e proteger os refugiados da exploração. A realidade, contudo, tem mostrado o inverso. As vítimas são perseguidas enquanto os infratores escapam ilesos.
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